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Para espantar os males

Todo ser humano é capaz de cantar, afinadamente. Trata-se de uma verdade absoluta, não importa o que quer que lhe tenham dito na infância. Mesmo quem sempre se achou desafinado pode deixar de lado a inibição e soltar a voz. E ainda aproveitar para afinar emoções negativas. Afinal, cantar é questão de aprendizado e treino. E reprogramar novos modelos para a vida, também. Nada que a cantoterapia não possa dar uma mãozinha.

Tem gente que chega à Oficina de Música querendo apenas aprender a cantar. Outros, atraídos pela terapia, resistem à idéia de soltar a voz. Uns e outros terminam conquistados pela técnica que a professora Sonia Joppert desenvolveu há vários anos. A cantoterapia é, ao mesmo tempo, uma atividade artística e terapêutica, que se utiliza tanto das técnicas de canto e impostação de voz quanto dos recursos da análise transacional, da programação neurolingüística, da musicoterapia e da expressão corporal. E ainda soma mais uns toques de teatro e de dinâmica de grupo.

É uma combinação capaz de resultados rápidos e às vezes surpreendentes. Pode acabar com as manifestações de medo de alguém com síndrome do pânico, atenuar crises de herpes, melhorar casos de úlceras e problemas geralmente agravados pelos estados emocionais e tensão. Também consegue fazer com que muita gente libere seu lado mais afetuoso, que consiga ver com mais clareza as situações que está vivendo. Não por acaso, pacientes com mais de dez anos de terapia, embora estejam muito bem, obrigado, não conseguem se dar alta. Simplesmente para continuar aproveitando os prazeres do lado artístico da técnica.

Desprogramando crenças negativas "Uso a música como veículo. Com ela, o que se observa é que as pessoas se tornam mais soltas. As emoções afloram e atravessam o lado racional sem que se consiga resistir. E quando as emoções surgem, é preciso trabalhá-las", explica a terapeuta. É um trabalho de autoconhecimento. E também um treinamento para desfazer antigas programações negativas que nos acompanham desde a infância. "Muita gente não canta porque ouviu quando criança alguém mais velho lhe dizendo que tinha voz horrível. Ou se acha desajeitado, pelo mesmo motivo. A criança acredita e passa a se ver desta forma. São programações negativas que podem ser mudadas, nos vários aspectos da vida", estimula Sonia Joppert.

Ela tem bastante experiência do que diz. Fruto de uma família musical, professora de violão desde os 15 anos, especializada em canto, impostação de voz e técnica vocal, Sonia matriculou-se no curso de musicoterapia, assim que a novidade apareceu no Rio, há quase duas décadas. "Com a prática, comecei a ver que não era exatamente o que eu queria fazer. Mas percebi também que todos os exercícios e atividades utiilizados para desenvolver habilidades em deficientes podiam muito bem ser aplicado em pessoas normais", conta.

Os primeiros "alunos" foram os filhos pequenos, depois os amigos adultos. Situações difíceis em sua vida pessoal a levaram à terapia. Mais especificamente à análise transacional, mais rápida e objetiva. Entusiasmada com os bons resultados, Sonia fez um curso de formação profissional. Mais tarde, vieram também as formações em neurolinguística e em expressão corporal, somadas à experiência que foi adquirindo ao longo dos anos.

Auto-estima, autoconfiança e autovalorização. Na verdade, através da música, procura-se desenvolver auto-estima, autoconfiança e autovalorização. Palavras que, embora pareçam significar a mesma coisa, têm sutis diferenças. Enquanto a auto-estima fala da necessidade de se aprender a cuidar de si mesmo, com a autovalorização o que se aprende é a sentir-se alguém importante e com isso a questionar certas situações. A autoconfiança é que o faz sentir-se à vontade em público.

A terapeuta prepara cada uma de suas aulas como uma combinação de técnicas. Mexe-se voz, corpo e emoção. Vocalises, expressão corporal, exercícios e atividades feitos exatamente para trabalhar voz e emocional. Tudo, obviamente, com muita música. "A terapia é conseqüência, assim como o canto", afirma a terapeuta. A idéia é de que os alunos entrem em contato com suas reais dificuldades, vençam resistências e inibições naturais, aprendam a cantar e a se exprimir com liberdade. "É principalmente um treinamento para ser feliz", define a cantoterapeuta.

O método tem rendido tão bons resultados que Sonia Joppert já expandiu suas aplicações. Multinacionais como a Xerox, Coca Cola e L'Oréal costumam contratá-la para workshops com seus funcionários. A intenção é melhorar os relacionamentos interpessoais dentro da empresa, aprender a administrar conflitos e a controlar o estresse. Em conjunto com um de seus alunos de cantoterapia, o juiz de menores Siro Darlan, Sonia iniciou um novo projeto. Está ensinando mães de meninos de rua a se "desarmarem". Na prática isto significa ajudá-las a romper o círculo de maus tratos e agressividade, mostrando-se mais afetuosas e aceitando os filhos de volta em casa. Até agora tem dado certo.

Será mais uma de suas muitas atividades. Além das aulas semanais, a cada 15 dias, os alunos da Oficina de Música se reúnem em shows musicais. E periodicamente intensificam o aprendizado em spas de cantoterapia, verdadeiros mergulhos lúdicos, musicais e terapêuticos. Com tudo isso, a cantoterapia e seus alunos mostram que o velho ditado não podia ser mais verdadeiro. Quem canta realmente seus males espanta.

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